Tuesday, January 30, 2007


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Corri. Voei sobre minhas barreiras.


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Caminhei descalça sobre a senda que me foi dada. O senti mais minha que de qualquer um que pela mesma percorresse, pois deixei ali o rastro e a inconfundível impressão de contato com a pele.


Abracei a luz que me foi concedida, foi o que me fez caminhar.


Hoje, findo o destino, quero simplesmente contemplar.


Estou amando mais que nunca, sentindo como jamais. O remate.


Certo é que suspirei pelo amanhã, planejei isto e aquilo. Desejei ter e ser. Mas não... O caminho se acabou.


Não se vai violentamente minha existência. Por mais que desejo fosse, não penso que tinha “algo a acabar”... unicamente observar, lembrar... conjecturar.


Num murmúrio suave deixo toda a afeição que me impele a despedir.


Separo-me da vida deixando para quem duvidas tiver, que se um dia as palavras EU TE AMO a si foram arremessadas através de minha boca, é porque realmente fez a diferença em minha estrada. Não tomo pedras preciosas por simples cacos de vidro. Mas também não as guardo num cofre.


Aos amores futuros, deixo o pesar de terem sido simplesmente sonhados...


Aos amores eternos, rendo graças por estarem em meu caminho desde o primeiro ao último dia. E é por vossa, e somente vossa causa, que lágrimas no âmago do meu ser brotam.











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BLIND ZERO - DRIVE




... aquecendo



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Thursday, January 25, 2007

Re-

Nunca vi piada na repetição de fatos. Fatos... Factos... Fast... FASTIDIOSO, o correr do relógio quando os primeiros algoritmos da equação de uma existência entram em progressão. Via de regra, quando o olhar já está treinado o resultado é pré concebido.

Folhas e folhas de reconhecimentos, rabiscos, cômputos, e energia gasta em tal questão. Conclusão: “puta que la merda, eu já sabia disso”. Quem tem prazer no cálculo algébrico sabe que o gozo não está no resultado, mas nos caminhos que se toma para alcançar.

Infinitas possibilidades...

Não me incomoda o trabalho, mas sim a reprise. É onde praguejo e rotulo sim, o demônio nietzscheano com o Eterno Retorno. Onde já se viu figurar tal conluio para minha alma cansada???

Quanto mais se toma conhecimento da razão constate entre os termos, Chronos aperta os passos.

Viajar à velocidade da luz faz com que nada dure tempo suficiente para aquecer. Mas o “mano velho” é implacável. Não pára.

O fogo, e a explosão que acalmam meu desejo, ainda não foram capazes de esquentar por tempo suficiente a derreter perpétuamente o bloco que levo no peito, repetidamente solidificado pela ação do frio.


Ainda não entendi bem porque fui encontrar justo no frigorífico um porto seguro. Mais precisamente no congelador... Congela-dor.

E novamente vejo faísca… Vejo lenha.







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O único...

Música


Autor: Juan Ramón Jimenez
(Tradução de Paulo Mendes Campos)

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De repente, jorrando de um peito que se parte
o jato apaixonado fende a sombra
– como a mulher que abrisse os balcões soluçando,
nua, para as estrelas - com anseio de morrer sem motivo,
que fosse vida louca, imensa.
E não regressa nunca mais – mulher ou água –
mesmo que fique me nós crepitando,
real e inexistente sem poder parar.

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Tuesday, January 23, 2007

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Monday, January 22, 2007

Matriz




Não sou mulher. Meu ventre ainda não germinou.

O medo de não poder sê-lo por completo era tal, que coração bateu mais forte diante da carta em resposta às análises de fertilidade
- Antecipadas e desnecessárias -

Nunca tentei. Minha alma grita por completar o ciclo natural, mas ainda falta tanto... e tanto...

Não é tempo. Não tenciono produção independente, e pouco estou me importando em encontrar um progenitor. Não é algo que será planejado de forma unilateral ou com a frieza que levo para as demais áreas da minha vida.

De momento me perturbaria e até desmantelaria o curso das metas que tenho a cumprir. Por isso não cogito.

... Mas quero. Quero ser a fêmea caridosa e desvelada, a origem, o elo de algo concebido com amor e que venha como complemento.


Sou muito minha, somente minha, e não de quem deseja. Almejo ser de quem me tornar mulher. Se isto acontecer, renunciarei.





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Friday, January 19, 2007



Hoje esqueci em casa o livro que já vai pela metade.

Odeio quando isso acontece.

Fui obrigada a reparar em pessoas. Peguei o jornal do metro - que até então só repetia as "novidades" do Euronews - Tédio.

Quando já ia a meio de maldizer, fez-se Luz.

Um gesto que me ampara, rouba a cena. Recebi um sorriso e mão esticada que anteciparam-se a uma provável queda. Atentei ao olhar. Fechei o jornal e decidi observar.

Apreciei o Mundo à minha volta, ouvi pessoas e suas narrativas, dialoguei com olhares e retribuí sorrisos. O comboio ia à beira do Tejo, e aos poucos que o rio em mar se tornava, o reflexo intermitente do Sol naquelas paisagens fizeram-me viajar sem estar alheia ao ambiente. Diferentemente do trajeto que faço submersa num universo de pequenas letras impressas numa folha.

Dia atípico, dia do pormenor. Resolvi exercitar os 4 sentidos.

A viagem fez-se num piscar de olhos. Imensidão de segundos que abarcaram infinidades de sensações.

… Bendita hora que esqueci o livro na estante.






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Ups... Então quer dizer que...

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Autor: Max Gehringer (Revista Exame)



Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso portal. Ainda meio zonza, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava acontecendo, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:

- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?

- No céu.

- No céu?...

- É.

- Tipo assim... O céu, CÉU...! Aquele com querubins voando e coisas do gênero?

- Certamente. Aqui todos vivem em estado de gozo permanente.

Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedida custou um pouco a admitir que houvesse mesmo apitado na curva. Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa. E foi aí que o interlocutor sugeriu:

- Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.

- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?

- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.

- Assim? (...)

- Pois não?

A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas, a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:

- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...

- Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?

- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo "executiva"?

- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.

Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.

- Sabe meu caro Pedro. Se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando à toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.

- É mesmo?

- Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?

- Ah, não sabemos.

- Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?

- Hã?

- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar virando uma anarquia. Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.

- Que interessante...

- Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a gente acalma a galera bolando um sistema de stock option, com uma campanha motivacional impactante, tipo: "O melhor céu da América Latina".

- Fantástico!

- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização de um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.

- !!!... ???... !!!...???... !!!...

- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe, certo?

- Sobre todas as coisas.

- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, me parece extremamente atrativo.

- Incrível!

- É óbvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um turnaround radical.

- Impressionante!

- Isso significa que podemos partir para a implementação?

- Não. Significa que você terá um futuro brilhante, mas se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno...




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Tuesday, January 16, 2007

Enxergar??? Eis a questão!




Queria dar crédito à carochinha…

Bem queria esperar que a Rapunzel saísse da masmorra em um ápice de desfrute, escoltada pelo viril príncipe viajante de terras longínquas.

Duro é saber que afinal são “contos”.

Não fantasio com sonhos impossíveis, mas adoro mergulhar por onde navega o subconsciente, intentando ponderar isto ou aquilo de modo a tangenciar o “possível”.

Pena ter aprendido ainda cedo que não é o coelho que traz os ovos de chocolate. Mesmo assim, tivesse acreditado, talvez hoje não estaria nesta jornada eremítica.

Valha-me Deus!!! Escamas nos olhos é que não quero ter.

- Quanta dicotomia -

Está bem… Quem sabe amanhã aprendo que tudo o que sei não passa de conspiração desta massa cinzenta que ainda insiste em exercer certas funções?




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Lembrança


ASA BRANCA - TIAGO BANDEIRA

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...Veio o gosto da água fresca do filtro de barro.

12 primaveras.

O reflexo turvo do vestido florido, estampado no chão vermelho que acabara de lustrar. Pés no chão, rebelando-se ao que ralhava a voz materna.

Cabelos soltos e esvoaçantes nunca por tesoura decorridos, bem como o coração.

Era a menina Pandora, que avistava pela janela a estrada de terra do outro lado da serra. Poeira se levantava no momento que um carro por ali passava - tal e qual sua irrequieta curiosidade acerca do futuro - quando esta baixava, vislumbrava verdes prados.

Tudo sob o tórrido Sol de verão daquele País Tropical.

Asa Branca embalava em notas harmoniosas, mas não muito nítidas saídas de uma antiga radiola, da humilde casinha de madeira que se instalara a duras penas, no terreno baldio ao lado. Família humilde. Crianças com pés descalços não por rebeldia. Chão de piso batido, onde sequer engendrava-se o uso de cera. A fome era patente. Ao ritmo de Luiz Gonzaga a menina que assistia a cena “… perguntava óh Deus do céu, porquê tamanha judiação ? ...”.

Mal sabia o que era contexto.

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