Saturday, July 08, 2006

Respingos...


Um dia a flor desejou ter água. Tinha água, à disposição, mas não com o frescor do que a fazia sentir falta, por isso estava em um jardim deserto.
Estranha sensação, uma vez que tinha consciência de que o frescor que esperava era utópico, portanto seu futuro seria como estava.

Enganou-se a flor

Sem motivo algum esbarrou-se na flor a fonte de pedra que revelava na água o frescor que ela tanto almejava. Entregou-se, deliciou-se no presente e se permitiu acreditar.
Acreditou na pureza da água que a fonte a fornecia, e desse momento em diante suas raízes refrescavam-se somente daquela água. Não poderia ser de outra forma, uma vez que em sua crença, aquela água era pura e cristalina, e que tudo o que via era o que a fonte fornecia.
Flor não sabia que a fonte tinha segredo. Sentia o gosto na água, mas acreditou que se era verdadeira não teria o que temer.

Enganou-se a flor

Descobriu de onde vinha aquele sabor que não a deixava desfrutar do frescor que lhe fora oferecido. Flor se entristeceu… Murchou. Suas raízes submergiram naquela água e se afogaram.
Flor desejou nunca ter água, mas sabia que estaria sempre presente em sua sobrevivência, mesmo que sem o frescor participante daquela fonte.
Decidiu então que poderia olhar para frente e sequer se permitir ter sede.

Enganou-se a flor

Flor deixou o Sol entrar nas raízes e desejou que até os respingos daquela água se evaporassem.
Hoje a flor quer o frescor de volta, tem sede, mas não consegue desabrochar…


Ah… Se a flor soubesse tão certo quanto sua morte, que é possível voltar a desabrochar sem enganar-se… O seu futuro não seria no jardim deserto.